domingo, 28 de fevereiro de 2016

O André ao chegar em Dublin.

Então ok. 9h36 em Madri, vou embarcar em 10 minutos, esse é um post rápido.

O André ao chegar em Dublin já não vai ser mais o mesmo. Ele é feliz, e vai viver dias alegres com suas artes, escrevendo suas bobagens, cantando suas músicas, tocando pelas ruas, e sendo autêntico como sempre. Ele vai fumar mais maconha e usar mais drogas, ele vai seguir as insinuações do Aldous Huxley. O André vai olhar pra si mesmo com alegria, e deixar as coisas acontecerem.

O André vai continuar vivendo sem fazer ideia do que acontecerá no futuro. Ele vai continuar vivendo o presente e deixando o passado ir com os textos escritos. Pra que um dia chegue, e nesse dia ele vai ler os textos, e lembrar que a vida dele é maravilhosa.

O André vai continuar seguindo, lutando, chorando, gritando, caminhando, aos trancos e barrancos, caindo e levantando... Mas o André vai continuar seguindo, e sorrindo no final.

O fim do Camino de Santiago (Hedonistando)

Então vamo lá. São 8h44, estou no Aeroporto de Madri esperando o voo até Dublin. Como no último post, é difícil organizar a cabeça depois dessa viagem, por um lado positivo. Fico me perguntando se qualquer viagem seria como essa, ou se são os tipos de viagem que me mudam tanto. Digo, nessa trip eu conheci uma rapaziada que viaja o mundo inteiro... Juntando com o que eu vinha lendo esses dias -- 1984, de George Orwell -- eu me senti deslocado dessa rapeize. Falo que, pelo mais cru que seja, eles são ricos e eu não. A realidade deles é diferente da minha. Por exemplo agora, tô voltando pra casa (MINHA CASA AGORA É DUBLIN!!!) com algumas moedas na mochila e sete euros em conta, até semana que vem.

Ontem a tarde estava no Museu do Prado quando algo especial aconteceu. O Rapha (meu primeiro roommate) me marcou numa publicação no Facebook. Era o OPEN MIC DO DARK HORSE!! Dessa vez tive certeza que é música que eu amo de verdade. Esse Dark Horse sim fica em Dublin, e estavam recrutando uma galera pra tocar lá nas quintas feiras. Teclei com o cara e pá, consegui um lugar pra tocar no pub. Daí meu coração pulou, meu corpo tremeu e minha boca sorriu. Amar alguém te dá essa sensação. Amar é ser sacudido por alguém, e sentir que nada mais interessa. Já sei que quando isso me acontece, é porque é amor de verdade. Foi ontem -- no último dia -- que eu tive essa resposta, de que não só música, mas TOCAR música, entreter pessoas é o que me move. Hoje tô muito feliz por isso e sei que é a volta por cima na minha deprê.

MAS VAMOS A VIAGEM!!! Como já disse antes, é difícil resumir o que me aconteceu nesses dias, mas preciso deixar escrito. Fiquei tão feliz em ter voltado a escrever, ao ver minha história sendo derramada... Nessa viagem eu recuperei minha autoconfiança, eu recuperei minha vontade de criar, eu terminei de me descobrir. Rolou um diário na página do Lixeira durante os três primeiros dias, mas fiquei sem postar quando cheguei em Betanzos e lá não tinha internet. Mas continuei escrevendo, e vou postar quando voltar a Dublin. Só que pouco escrevi sobre o último dia, sobre minha chegada em Santiago. A verdade é que foi algo muito pessoal, a ponto de não pertencer a Lixeira, e sim ao Hedonistando. Mas vamo lá.

Pois é, não me despedi do Julian. Ele foi seguindo o caminho errado bem lá na frente, então eu apenas tomei o meu caminho certo. Boa sorte pra ele. Pensei depois, minha vida é assim mesmo. Lembro do meu sonho. Caminho só, no meio do caminho conheço gente, e até caminhamos juntos por um tempo, mas alguma hora eu sigo o meu caminho. Eu sei -- ou pelo menos penso que sei -- pra onde tenho que ir. Então cheguei em Santiago de Compostela sozinho, embora os planos tenham sido de chegarmos juntos. Na hora pensei que choraria ao chegar, mas não. A cidade era espetacular. Andei um pouco por ali, mas chovia, então fui direto ao Seminario Mayor. Me fudi. Pensava que era o albergue barato do bagulho, mas era um hotel meio luxo e meia boca.

Mas puta que pariu. Nesse dia eu chorei, e não foi pouco. Ao entrar no quarto eu desabei em lágrimas, daí me recompus, tomei um banho, busquei a Compostela, e fui à Missa do Peregrino. Puta mano, que momento louco foi aquele! Só de chegar na Catedral os olhos já começaram a encher, daí ao enxergar o padre fazendo as rezas e olhar toda a beleza daquele lugar eu não me contive. Haviam poucos peregrinos ali, a maioria parecia ser local. Mas eu chorei, cara. Fiquei no último banco, tentando segurar o choro que vinha involuntariamente. Lembrava muito do Julian, e de todo o caminho que percorri. Era o final, e o final era feliz. Senti muito orgulho de mim mesmo, e sim, fiquei feliz comigo mesmo.

Eu pensava ser avarento e egoísta, mas descobri que não ao lembrar da caminhada. Cara, dividi minha comida com o Julian, dividi meu dinheiro -- literalmente! -- com ele, e fiz o meu melhor pra o ajudar. No final, me sobraram 20 euros e sem perceber, dei 20 euros a ele também. Deixei as contas pro final, e por isso fiquei pobre aqui em Madri. E fiquei feliz porque tudo o que gastei com ele foi o melhor que pude fazer, digo, não me sobrou dinheiro mesmo. Em Sigüeiro eu dei 20 euros a ele, paguei sua estadia, cozinhei um bom jantar e fiz um bom café da manhã (meu estilo, misto quente) na manhã seguinte. O velho não me agradeceu com palavras, mas a maneira como ele me olhava era de agradecimento. Ouvir um obrigado é bom sim, mas ter ajudado sem ouvir esse 'obrigado' foi muito bom no final.

E ali na Catedral eu cheguei sozinho, e chorei sozinho, desejando o melhor pra esse meu companheiro de pernada. Espero que hoje ele esteja bem e tenha encontrado alguém pra o ajudar até o dia 10.