Bem, então é isso aí. Agora eu tô de boa outra vez na cozinha do albergue de peregrinos escrevendo no laptop e tomando um vinho de 1,50 pra comemorar a vida. O dia foi longo e muito mais cansativo que o anterior, segundo os papeis eu caminhei 24km e cheguei a subir e descer mais ou menos 70m de altitude. Foi punk mano. Deixa eu tomar outra golada aqui...
Os albergues de peregrinos durante a baixa temporada (inverno) funcionam desse jeito: você chega no lugar, pá, daí o bagulho vai estar fechado. Sim, amiguinho, fechado. Só que na porta vai ter -- ou espero que tenha pelamordedeus -- um aviso com o número do dono da chave da casa. Então você vai e liga pro cara e pede pra ele vir de algum lugar e abrir pra você.
Cheguei aqui em Miño às 18h e foi o que aconteceu. Não tinha uma alma viva por perto. Liguei pro jhoul da chave e ele me pediu pra esperar até as 21h. Lembrei que era sábado e tava tendo a rodada do campeonato espanhol. Porém, eu tinha girado a maçaneta e o troço tava aberto. ABERTO. Dei um salve pra ver se tinha alguém dentro, e nada. Vou abrir um parêntese aqui rapidola.
Ultimamente eu tava jogando H1Z1, um jogo de apocalipse zumbi em que você entra em casas vazias pra pegar mantimentos e armas, mas você tem que tomar cuidado pois podem haver pessoas escondidas nas casas pra te matar e roubar seus pertences.
OK, então aí você já sabe qual foi minha reação né. Peguei a primeira arma que vi pela frente (ver extintor de incêndio) e saí entrando em todos os quartos do albergue. Aqui tinha dez portas abertas, dez salas pra ver. O foda é que NÃO TEM BARULHO NENHUM, a não ser os seus. Ai, tô quase acabando o vinho. Mas então, entrei em todos os quartos mas de fato não havia ninguém aqui e o lugar tava aberto (!!!!!).
O veinho da chave veio como prometido às 21h, e eu descobri que o último peregrino passou aqui no dia 16, quatro dias atrás. O foda desses albergues é que o gênio que colocou insul-film nas janelas e portas de vidro instalou a parte reflexiva pra dentro da casa, ou seja, você só vê o próprio reflexo e não consegue ter ideia se tem alguém lá fora te olhando. Que maravilha hein mãe hahahaha
A verdade é que eu me tranquei no prédio e não há nada nesse mundo, NADA, que vai me fazer sair até amanhã de manhã. Nem pra fumar eu tô saindo cara. Não saio daqui neeeeeeeeem fudendo!
Agora preciso terminar esse vinho, escrever mais um pouco e dormir. Amanhã o dia vai ser light. Tchau, se cuida aí.
Bem vindo ao meu blog secreto. Aqui eu falo um monte de merda que só eu sei mesmo. Textos por André Picanço.
sábado, 20 de fevereiro de 2016
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
Camino de Santiago - Round 1
A rota hoje foi de Ferrol até Neda.
Agora eu tô relaxadaço aqui no albergue de peregrinos em Neda, sozinho, escrevendo na cozinha. Tenho o albergue INTEIRO só pra mim essa noite. É que a galera não costuma perergrinar no inverno. Isso é coisa de André mesmo. O lugar até me surpreendeu, tem cozinha, lavanderia, banheiros e até wifi! E o melhor de tudo, custou só 6 euros.
Mas ok. Meu dia foi longo pra porra. Me despedi ontem da galera do hostel, puta galera manera... Não sei se eu que fiquei menos índio de uns tempos pra cá ou se eu tive sorte de encontrar um pessoal daora mesmo. Fui pra estação de ônibus e embarquei às 0h30. Foram oito horas de viagem. Dormi e acordei tanto que não sabia nem aonde tava direito. Meu medo foi que durante o trajeto eu vi que nevava e fazia uma friaca dos infernos mano... Mas lá em Ferrol tava de boa. Cheguei às 08h.
Ferrol é uma cidade do interior tipo Santarém, com a orla, a igreja em estilo colonial e tal, uns mercadinho fulero aí... Eu fiquei andando pela cidade até o escritório de turismo abrir, às 10h30. Andei feito cavalo, com a mochila pesando 11kg nas costas. Nada mal. Daí cansei e entrei num café pra ler um pouco e matar o tempo. Aliás, tô lendo 'Doors of Perception' do Aldous Huxley, e cara... É esse o livro viu! Basicamente ele tomou uma droga muito louca (mescalina) e ele escreve sobre o barato que ele teve haha
Então, 11h, peguei o Passaporte do Peregino, vambora. O caminho é lindo, mas até você se acostumar com o peso da mochila é um sofrimento... Fui andando e tirando fotos, descobrindo o meu ritmo, demorei uma eternidade pra andar 6km. Mas isso não foi nada comparando com o que houve depois.
Chega uma hora que a empolgação passa, e você passa a olhar menos à sua volta. É a hora que o Camino começa a falar contigo, como se ele soubesse o momento certo. Foi o ponto alto do dia. O relógio não fazia nenhuma falta nessa hora, as pessoas em volta e a cidade (o caminho passa em volta da cidade né) ficou irrelevante. Pode ser que os meus próprios passos tenham me hipnotizado, mas eu sabia que o barato tava bem louco. O único barulho que eu me lembro direito vinha dos meus passos e da minha respiração, às vezes um carro ou outro por perto. Então eu senti fome, sentei num lugar e comecei a comer um sanduba que preparei no dia anterior.
Isso é engraçado, mas não é a primeira vez que isso acontece quando eu tô comendo. Nas primeiras bocadas eu simplesmente comecei a chorar. Não, eu não só chorei como eu solucei comendo, chorava e comia feito uma criança, feito um retardado. E o pior de tudo é que eu demorei a entender o porquê.
Eu vim pra cá cheio de dúvidas e com a cabeça toda bagunçada, digo, ainda tenho essas dúvidas e bagunças, mas enquanto comia era como se nada mais importasse. Senti algo estranho, como se eu, o sanduba e o caminho, e o TUDO, fôssemos a mesma coisa. Isso é bem Paulo Coelhístico mas foi o que rolou... Não sei como explicar, mas eu chorava de alegria, era como se eu estivesse no céu por um momento. Me senti a pessoa mais feliz e sortuda do universo, isso foi um puta de um orgasmo espiritual cara...
Quando mais novo eu sonhei que estava tão feliz, mas tão feliz que nem continuar vivendo fazia diferença. É estranho, né, mas nesse sonho eu literalmente morria de alegria. Obviamente que eu não quero morrer, mas ficar feliz a um ponto de nem a vida interessar mais deve ser muito louco. Acho que hoje eu senti uns 20% dessa felicidade. Foi muito foda. Daí eu acordei pra vida e meus pés precisavam de atenção, começaram a criar bolhas e tal. Me arrastei até Neda e cá estou terminando esse post pra ir dormir e ser feliz amanhã de novo. Tchau.
Agora eu tô relaxadaço aqui no albergue de peregrinos em Neda, sozinho, escrevendo na cozinha. Tenho o albergue INTEIRO só pra mim essa noite. É que a galera não costuma perergrinar no inverno. Isso é coisa de André mesmo. O lugar até me surpreendeu, tem cozinha, lavanderia, banheiros e até wifi! E o melhor de tudo, custou só 6 euros.
Mas ok. Meu dia foi longo pra porra. Me despedi ontem da galera do hostel, puta galera manera... Não sei se eu que fiquei menos índio de uns tempos pra cá ou se eu tive sorte de encontrar um pessoal daora mesmo. Fui pra estação de ônibus e embarquei às 0h30. Foram oito horas de viagem. Dormi e acordei tanto que não sabia nem aonde tava direito. Meu medo foi que durante o trajeto eu vi que nevava e fazia uma friaca dos infernos mano... Mas lá em Ferrol tava de boa. Cheguei às 08h.
Ferrol é uma cidade do interior tipo Santarém, com a orla, a igreja em estilo colonial e tal, uns mercadinho fulero aí... Eu fiquei andando pela cidade até o escritório de turismo abrir, às 10h30. Andei feito cavalo, com a mochila pesando 11kg nas costas. Nada mal. Daí cansei e entrei num café pra ler um pouco e matar o tempo. Aliás, tô lendo 'Doors of Perception' do Aldous Huxley, e cara... É esse o livro viu! Basicamente ele tomou uma droga muito louca (mescalina) e ele escreve sobre o barato que ele teve haha
Então, 11h, peguei o Passaporte do Peregino, vambora. O caminho é lindo, mas até você se acostumar com o peso da mochila é um sofrimento... Fui andando e tirando fotos, descobrindo o meu ritmo, demorei uma eternidade pra andar 6km. Mas isso não foi nada comparando com o que houve depois.
Chega uma hora que a empolgação passa, e você passa a olhar menos à sua volta. É a hora que o Camino começa a falar contigo, como se ele soubesse o momento certo. Foi o ponto alto do dia. O relógio não fazia nenhuma falta nessa hora, as pessoas em volta e a cidade (o caminho passa em volta da cidade né) ficou irrelevante. Pode ser que os meus próprios passos tenham me hipnotizado, mas eu sabia que o barato tava bem louco. O único barulho que eu me lembro direito vinha dos meus passos e da minha respiração, às vezes um carro ou outro por perto. Então eu senti fome, sentei num lugar e comecei a comer um sanduba que preparei no dia anterior.
Isso é engraçado, mas não é a primeira vez que isso acontece quando eu tô comendo. Nas primeiras bocadas eu simplesmente comecei a chorar. Não, eu não só chorei como eu solucei comendo, chorava e comia feito uma criança, feito um retardado. E o pior de tudo é que eu demorei a entender o porquê.
Eu vim pra cá cheio de dúvidas e com a cabeça toda bagunçada, digo, ainda tenho essas dúvidas e bagunças, mas enquanto comia era como se nada mais importasse. Senti algo estranho, como se eu, o sanduba e o caminho, e o TUDO, fôssemos a mesma coisa. Isso é bem Paulo Coelhístico mas foi o que rolou... Não sei como explicar, mas eu chorava de alegria, era como se eu estivesse no céu por um momento. Me senti a pessoa mais feliz e sortuda do universo, isso foi um puta de um orgasmo espiritual cara...
Quando mais novo eu sonhei que estava tão feliz, mas tão feliz que nem continuar vivendo fazia diferença. É estranho, né, mas nesse sonho eu literalmente morria de alegria. Obviamente que eu não quero morrer, mas ficar feliz a um ponto de nem a vida interessar mais deve ser muito louco. Acho que hoje eu senti uns 20% dessa felicidade. Foi muito foda. Daí eu acordei pra vida e meus pés precisavam de atenção, começaram a criar bolhas e tal. Me arrastei até Neda e cá estou terminando esse post pra ir dormir e ser feliz amanhã de novo. Tchau.
Então é assim que você quer morrer?
Então, é assim que você quer morrer,
isolado,
com frio
e chorando?
Parece que sim.
Isolado da monotonia,
com frio na barriga
e chorando de alegria.
Caminhar até esquecer o porquê,
pra ver que o final
só existe uma vez,
e todo o resto,
TODO o resto,
é meio.
Caminhar pra esquecer,
ou pra lembrar
que tudo é você
e que você é tudo.
isolado,
com frio
e chorando?
Parece que sim.
Isolado da monotonia,
com frio na barriga
e chorando de alegria.
Caminhar até esquecer o porquê,
pra ver que o final
só existe uma vez,
e todo o resto,
TODO o resto,
é meio.
Caminhar pra esquecer,
ou pra lembrar
que tudo é você
e que você é tudo.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
o texto de um dia que quase não aconteceu nada!
Meu mundo hoje cresceu um pouco. Só de conversar com pessoas novas eu me senti melhor. Tentei ficar sozinho o dia inteiro, mas isso foi impossível. Méritos ao acaso por isso... Ao chegar no centro de Madri, tratei de localizar meu hostel e andar até a hora do check-in, isso era questão de três horas. Fui no KFC pela primeira vez na vida, li um capítulo do 1984 e subi uma rua que me parecia interessante, havia uma feira ali. A rua inteira era de livrarias de rua, livros usados, achei incrível. Subi aquilo lentamente, não tinha pressa nenhuma.
Lembrei que momentos antes eu estava no aeroporto, caminhando até a estação do Metrô quando recebi uma mensagem da Nikki. 'Aproveita a viagem!', disse ela, e eu respondi quase que obrigatoriamente 'Já estou aproveitando!', mas na verdade ficava pensando, inseguro, se iria mesmo curtir bem a viagem sozinho. Pensava nela, o que ela andava fazendo, pensei em mandar mensagem, mas na verdade eu precisava 'estar aproveitando' a minha viagem, né... Era esse pensamento que ia e voltava na minha cabeça quase sempre. Acho que tô gostando dela de verdade. Que bosta. No final da rua dos livros usados havia um portão para um parque. Era o Parque de El Retiro e eu nem sabia.
Não consegui me animar muito pra fazer planos pra Madri, e mal olhava o mapa. Na verdade eu não tinha ideia do que estava fazendo ali. A bad tava batendo fudida. Andava devagar, pensando um monte e querendo estar com a Nikki. Pode ser paixão boba ou algo repentino, mas é a minha verdade nesse exato momento, só quero que ela esteja bem, e não vejo a hora de sair com ela de novo. De repente, entrei numa trilha de areia por impulso e por ela fui caminhando bem lentamente. Quando senti que era a hora, me sentei num banco de praça. Um velho bigodudo me perguntou 'você vai dormir aí?', eu disse que não, daí começamos a conversar. Eu só queria sentar pra escrever, merda.
O velho falou de um milhão de coisas, era maçante, mas conseguia falar espanhol com ele. Me contou a história de Madri, lugares pra visitar, as antigas capitais da Espanha, regiões como Andaluzia, Catalunya e tal, cidades que eu DEVERIA dar uma passadinha, o velho era simplesmente apaixonado por seu país. Deveras, né. Foi um papo ok, descontraiu e fez o relógio andar, daí ele começou a agarrar minha coxa enquanto falava. 'Coisa de espanhol', pensava. Até aí ok, mas quanto mais ele conversava, mais se empolgava e agarrava minha coxa e chegava perto do meu saco. Protegi meus bagos, claro, né. Uma hora o negócio foi demais pra mim e eu consegui encerrar o papo. Ficamos uns dez minutos dizendo tchau e nos abraçando, mas quando esse velho soltava o abraço, descia a mão pelos meus quadris até minha bunda. Isso rolou umas cinco vezes. O cara me chamou pra almoçar com ele. O velho não parecia gay, mas essas parada de ficar pegando em coxa e bunda é meio esquisito, sou machão mesmo ok... Ele foi embora, eu escrevi algumas coisas e segui meu rumo ao hostel.
Logo ao entrar, o hostel me pareceu super descolado. Gostei de cara. No meu quarto haviam três gurias, Sarah, Heather e Sam. Todas elas bem gente boa. Conversamos bastante. Sarah me atraiu, australiana e tal, Sam também era de lá, e cara, a mina tem um livro publicado e tá escrevendo o segundo! A pobre da Heather caiu de cara na noite anterior e quebrou o dente, a mina tava em apuros. Depois que adicionei a Sam, me ocorreu que ela é mais rica, vai e volta da Australia e vive viajando, quando a Sarah me disse que os tickets são absurdamente caros. Ela existe em um mundo diferente do meu. Depois de um tempo eu fiquei só outra vez, e isso foi ruim. O celular tá descarregando e a bateria não carrega direito, logo quase ninguém me mandava mensagem, e eu queria estar com a Nikki. Sim, eu fico muito bobo quando gosto de alguém. Me veio a cabeça que ficar sozinho não era a melhor coisa a se fazer. Não ainda.
'Quer vir comigo comprar comida?', me convidou Sarah. Ela tinha um sorriso lindo, rosto bronzeado e sardento, isso é sexy pra mim. Compramos comida e ficamos conversando no lounge do hostel. Ela tinha 32 anos. Eu tenho 22 até onde sei. Pode esquecer, André. Daí enquanto falávamos havia uma outra australiana que ouviu a conversa, e logo estávamos conversando em grupo, éramos uns cinco. Juntou-se uma mina que parecia indiana e um brother da Nova Zelândia. Eles falavam bem empolgados sobre a Espanha, cada cidade que eles visitaram, logo me veio a cabeça duas coisas: 1) Esse país deve ser muuuuuuito daora mesmo, preciso pesquisar; 2) É cara, esse é um grupo que eu não pertenço, talvez não ainda. Viajar por viajar, por ver lugares bonitos ainda não é minha parada. Digo, decidi escrever sobre meus dias aqui, compartilhar a experiência pessoal da jornada ao invés de apenas postar fotos de lugares lindos e comentar 'LINDO LUGAR!'. Voltei pro quarto e fui dar um cochilo.
Levantei de novo, tristonho, tomei banho e decidi sair por aí, me arriscar (menos, né), andando sem ter ideia da direção. No final encontrei a Plaza Mayor, é um lugar ok, mas no final eu avistei um Carrefour. Quanto tempo, Carrefour!
Ali os preços eram muito menores que os de Dublin. A qualidade também era diferente. As coisas pareciam mal organizadas na prateleira, daí me veio a cabeça que os espanhóis são bem diferentes, o inglês é tão não-me-toque que isso me irrita às vezes. Gostei disso. Uma latinha de cerveja pode custar até 0,30 centavos. Comprei os ingredientes pro meu misto quente de praxe. Voltei pro hostel e preparei minha comida.
Ficamos conversando até agora, meia noite e meia, sobre cidades e culturas e etc desse tipo. Havia um irlandês no meio, e na verdade EU tinha mais sotaque irlandês do que ele mesmo. Isso me deixa com vergonha um pouco, é como se eu tivesse tentando imitar os caras, sei lá... Mas ok, o cara também é apaixonado pela Espanha e vive aqui há três anos e meio. Nem sonha em voltar pra Dublin. Esse país deve ser mesmo daora viu, principalmente Granada. Todo mundo fala em Granada, meu! Nessa conversinha besta o meu mundinho abriu um pouco.
--
Ando preso em coisas que eu mesmo construí -- O que você vai fazer?, é uma coisa delas. A maioria das pessoas que conheci hoje não faz ideia do que tá fazendo da vida, e mal pareciam se preocupar. Deixam a vida correr como na mais linda imaginação. Preciso pegar mais leve comigo mesmo, se as coisas derem errado, a vida vai me dar outra chance pra outra coisa. Só pegar mais leve comigo mesmo. Mas eu gostei da Nikki mesmo.
E olha que esse foi o texto de um dia que quase não aconteceu nada!
Lembrei que momentos antes eu estava no aeroporto, caminhando até a estação do Metrô quando recebi uma mensagem da Nikki. 'Aproveita a viagem!', disse ela, e eu respondi quase que obrigatoriamente 'Já estou aproveitando!', mas na verdade ficava pensando, inseguro, se iria mesmo curtir bem a viagem sozinho. Pensava nela, o que ela andava fazendo, pensei em mandar mensagem, mas na verdade eu precisava 'estar aproveitando' a minha viagem, né... Era esse pensamento que ia e voltava na minha cabeça quase sempre. Acho que tô gostando dela de verdade. Que bosta. No final da rua dos livros usados havia um portão para um parque. Era o Parque de El Retiro e eu nem sabia.
Não consegui me animar muito pra fazer planos pra Madri, e mal olhava o mapa. Na verdade eu não tinha ideia do que estava fazendo ali. A bad tava batendo fudida. Andava devagar, pensando um monte e querendo estar com a Nikki. Pode ser paixão boba ou algo repentino, mas é a minha verdade nesse exato momento, só quero que ela esteja bem, e não vejo a hora de sair com ela de novo. De repente, entrei numa trilha de areia por impulso e por ela fui caminhando bem lentamente. Quando senti que era a hora, me sentei num banco de praça. Um velho bigodudo me perguntou 'você vai dormir aí?', eu disse que não, daí começamos a conversar. Eu só queria sentar pra escrever, merda.
O velho falou de um milhão de coisas, era maçante, mas conseguia falar espanhol com ele. Me contou a história de Madri, lugares pra visitar, as antigas capitais da Espanha, regiões como Andaluzia, Catalunya e tal, cidades que eu DEVERIA dar uma passadinha, o velho era simplesmente apaixonado por seu país. Deveras, né. Foi um papo ok, descontraiu e fez o relógio andar, daí ele começou a agarrar minha coxa enquanto falava. 'Coisa de espanhol', pensava. Até aí ok, mas quanto mais ele conversava, mais se empolgava e agarrava minha coxa e chegava perto do meu saco. Protegi meus bagos, claro, né. Uma hora o negócio foi demais pra mim e eu consegui encerrar o papo. Ficamos uns dez minutos dizendo tchau e nos abraçando, mas quando esse velho soltava o abraço, descia a mão pelos meus quadris até minha bunda. Isso rolou umas cinco vezes. O cara me chamou pra almoçar com ele. O velho não parecia gay, mas essas parada de ficar pegando em coxa e bunda é meio esquisito, sou machão mesmo ok... Ele foi embora, eu escrevi algumas coisas e segui meu rumo ao hostel.
Logo ao entrar, o hostel me pareceu super descolado. Gostei de cara. No meu quarto haviam três gurias, Sarah, Heather e Sam. Todas elas bem gente boa. Conversamos bastante. Sarah me atraiu, australiana e tal, Sam também era de lá, e cara, a mina tem um livro publicado e tá escrevendo o segundo! A pobre da Heather caiu de cara na noite anterior e quebrou o dente, a mina tava em apuros. Depois que adicionei a Sam, me ocorreu que ela é mais rica, vai e volta da Australia e vive viajando, quando a Sarah me disse que os tickets são absurdamente caros. Ela existe em um mundo diferente do meu. Depois de um tempo eu fiquei só outra vez, e isso foi ruim. O celular tá descarregando e a bateria não carrega direito, logo quase ninguém me mandava mensagem, e eu queria estar com a Nikki. Sim, eu fico muito bobo quando gosto de alguém. Me veio a cabeça que ficar sozinho não era a melhor coisa a se fazer. Não ainda.
'Quer vir comigo comprar comida?', me convidou Sarah. Ela tinha um sorriso lindo, rosto bronzeado e sardento, isso é sexy pra mim. Compramos comida e ficamos conversando no lounge do hostel. Ela tinha 32 anos. Eu tenho 22 até onde sei. Pode esquecer, André. Daí enquanto falávamos havia uma outra australiana que ouviu a conversa, e logo estávamos conversando em grupo, éramos uns cinco. Juntou-se uma mina que parecia indiana e um brother da Nova Zelândia. Eles falavam bem empolgados sobre a Espanha, cada cidade que eles visitaram, logo me veio a cabeça duas coisas: 1) Esse país deve ser muuuuuuito daora mesmo, preciso pesquisar; 2) É cara, esse é um grupo que eu não pertenço, talvez não ainda. Viajar por viajar, por ver lugares bonitos ainda não é minha parada. Digo, decidi escrever sobre meus dias aqui, compartilhar a experiência pessoal da jornada ao invés de apenas postar fotos de lugares lindos e comentar 'LINDO LUGAR!'. Voltei pro quarto e fui dar um cochilo.
Levantei de novo, tristonho, tomei banho e decidi sair por aí, me arriscar (menos, né), andando sem ter ideia da direção. No final encontrei a Plaza Mayor, é um lugar ok, mas no final eu avistei um Carrefour. Quanto tempo, Carrefour!
Ali os preços eram muito menores que os de Dublin. A qualidade também era diferente. As coisas pareciam mal organizadas na prateleira, daí me veio a cabeça que os espanhóis são bem diferentes, o inglês é tão não-me-toque que isso me irrita às vezes. Gostei disso. Uma latinha de cerveja pode custar até 0,30 centavos. Comprei os ingredientes pro meu misto quente de praxe. Voltei pro hostel e preparei minha comida.
Ficamos conversando até agora, meia noite e meia, sobre cidades e culturas e etc desse tipo. Havia um irlandês no meio, e na verdade EU tinha mais sotaque irlandês do que ele mesmo. Isso me deixa com vergonha um pouco, é como se eu tivesse tentando imitar os caras, sei lá... Mas ok, o cara também é apaixonado pela Espanha e vive aqui há três anos e meio. Nem sonha em voltar pra Dublin. Esse país deve ser mesmo daora viu, principalmente Granada. Todo mundo fala em Granada, meu! Nessa conversinha besta o meu mundinho abriu um pouco.
--
Ando preso em coisas que eu mesmo construí -- O que você vai fazer?, é uma coisa delas. A maioria das pessoas que conheci hoje não faz ideia do que tá fazendo da vida, e mal pareciam se preocupar. Deixam a vida correr como na mais linda imaginação. Preciso pegar mais leve comigo mesmo, se as coisas derem errado, a vida vai me dar outra chance pra outra coisa. Só pegar mais leve comigo mesmo. Mas eu gostei da Nikki mesmo.
E olha que esse foi o texto de um dia que quase não aconteceu nada!
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
A treta do Open Mic errado
No final do ano passado as coisas andavam muito loucas pra mim. Já tocava na Grafton Street com uma frequencia, sentia minha voz melhorar cada vez mais, estava feliz pacaraio... Tava nessa época que eu batia papo quase o dia inteiro com aquela mina que vivia no celular. Minha confiança ia a mil cara! Daí eu queria mais, queria tentar a experiência de tocar num pub ou coisa assim. Então numa certa noite eu consegui uma vaga num open mic.
O problema é que esse pub ficava nos Estados Unidos e tinha o mesmo nome de um pub daqui. Fiquei feliz e ansioso, ensaiei a parada correndo, fiz uma puta correria pra descobrir que não havia pub no endereço que ele me passou. Eu me fudi. Assim, tive que desmarcar com meus amigos que iriam pra lá, tipo umas 10 pessoas eu acho... Foi foda. Enchi a cara nessa noite e comecei a chorar logo a chegar em casa.
Tinha feito uma postagem toda alegre, convidando meus amigos e tal no facebook, daí tentei apagar essa porra, mas por algum motivo ela foi apagada sim, mas sempre que eu abria o face, essa postagem aparecia em primeiro, meio apagada, me lembrando desse dia.
Tudo bem que eu já fiz muita coisa de que hoje eu me envergonho, mas acho que desde aí as coisas não foram mais as mesmas em relação a música. Minha confiança despencou literalmente. As coisas deram errado no amor, eu era assombrado por aquele dia ruim, mas vivia pra esquecer... É uma das coisas que eu faço bem, esquecer.
Hoje eu tô, no final das contas, feliz. Tô me reconstruindo de todas essas merdas, e sei que um dia vou ficar bem, e confiante.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
Espero que não seja tarde
Vejo os ponteiros do relógio correrem cada vez mais
e as semanas ficando cada mais curtas
e eu te esqueci bem do meu lado
Todos os dias eu vejo você tentando se aproximar
pra ter alguém pra conversar
mas eu ando muito ocupado
Dormimos juntos, mas há sete palmos
nos separando
Eu enterrei você vivo
mas não vinha enxergando
Espero que não seja tarde pra dizer
te amo
Há um tempo atrás tudo era tão feliz
sorríamos juntos e nos conhecíamos tão bem
mas eu deixei você só
e eu fico imaginando qual vai ser esse final
será se vamos acordar e voltar a viver
ou será se é tarde pra dizer será?
e as semanas ficando cada mais curtas
e eu te esqueci bem do meu lado
Todos os dias eu vejo você tentando se aproximar
pra ter alguém pra conversar
mas eu ando muito ocupado
Dormimos juntos, mas há sete palmos
nos separando
Eu enterrei você vivo
mas não vinha enxergando
Espero que não seja tarde pra dizer
te amo
Há um tempo atrás tudo era tão feliz
sorríamos juntos e nos conhecíamos tão bem
mas eu deixei você só
e eu fico imaginando qual vai ser esse final
será se vamos acordar e voltar a viver
ou será se é tarde pra dizer será?
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