sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Camino de Santiago - Round 1

A rota hoje foi de Ferrol até Neda.

Agora eu tô relaxadaço aqui no albergue de peregrinos em Neda, sozinho, escrevendo na cozinha. Tenho o albergue INTEIRO só pra mim essa noite. É que a galera não costuma perergrinar no inverno. Isso é coisa de André mesmo. O lugar até me surpreendeu, tem cozinha, lavanderia, banheiros e até wifi! E o melhor de tudo, custou só 6 euros.

Mas ok. Meu dia foi longo pra porra. Me despedi ontem da galera do hostel, puta galera manera... Não sei se eu que fiquei menos índio de uns tempos pra cá ou se eu tive sorte de encontrar um pessoal daora mesmo. Fui pra estação de ônibus e embarquei às 0h30. Foram oito horas de viagem. Dormi e acordei tanto que não sabia nem aonde tava direito. Meu medo foi que durante o trajeto eu vi que nevava e fazia uma friaca dos infernos mano... Mas lá em Ferrol tava de boa. Cheguei às 08h.

Ferrol é uma cidade do interior tipo Santarém, com a orla, a igreja em estilo colonial e tal, uns mercadinho fulero aí... Eu fiquei andando pela cidade até o escritório de turismo abrir, às 10h30. Andei feito cavalo, com a mochila pesando 11kg nas costas. Nada mal. Daí cansei e entrei num café pra ler um pouco e matar o tempo. Aliás, tô lendo 'Doors of Perception' do Aldous Huxley, e cara... É esse o livro viu! Basicamente ele tomou uma droga muito louca (mescalina) e ele escreve sobre o barato que ele teve haha

Então, 11h, peguei o Passaporte do Peregino, vambora. O caminho é lindo, mas até você se acostumar com o peso da mochila é um sofrimento... Fui andando e tirando fotos, descobrindo o meu ritmo, demorei uma eternidade pra andar 6km. Mas isso não foi nada comparando com o que houve depois.

Chega uma hora que a empolgação passa, e você passa a olhar menos à sua volta. É a hora que o Camino começa a falar contigo, como se ele soubesse o momento certo. Foi o ponto alto do dia. O relógio não fazia nenhuma falta nessa hora, as pessoas em volta e a cidade (o caminho passa em volta da cidade né) ficou irrelevante. Pode ser que os meus próprios passos tenham me hipnotizado, mas eu sabia que o barato tava bem louco. O único barulho que eu me lembro direito vinha dos meus passos e da minha respiração, às vezes um carro ou outro por perto. Então eu senti fome, sentei num lugar e comecei a comer um sanduba que preparei no dia anterior.

Isso é engraçado, mas não é a primeira vez que isso acontece quando eu tô comendo. Nas primeiras bocadas eu simplesmente comecei a chorar. Não, eu não só chorei como eu solucei comendo, chorava e comia feito uma criança, feito um retardado. E o pior de tudo é que eu demorei a entender o porquê.

Eu vim pra cá cheio de dúvidas e com a cabeça toda bagunçada, digo, ainda tenho essas dúvidas e bagunças, mas enquanto comia era como se nada mais importasse. Senti algo estranho, como se eu, o sanduba e o caminho, e o TUDO, fôssemos a mesma coisa. Isso é bem Paulo Coelhístico mas foi o que rolou... Não sei como explicar, mas eu chorava de alegria, era como se eu estivesse no céu por um momento. Me senti a pessoa mais feliz e sortuda do universo, isso foi um puta de um orgasmo espiritual cara...

Quando mais novo eu sonhei que estava tão feliz, mas tão feliz que nem continuar vivendo fazia diferença. É estranho, né, mas nesse sonho eu literalmente morria de alegria. Obviamente que eu não quero morrer, mas ficar feliz a um ponto de nem a vida interessar mais deve ser muito louco. Acho que hoje eu senti uns 20% dessa felicidade. Foi muito foda. Daí eu acordei pra vida e meus pés precisavam de atenção, começaram a criar bolhas e tal. Me arrastei até Neda e cá estou terminando esse post pra ir dormir e ser feliz amanhã de novo. Tchau.

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