Meu mundo hoje cresceu um pouco. Só de conversar com pessoas novas eu me senti melhor. Tentei ficar sozinho o dia inteiro, mas isso foi impossível. Méritos ao acaso por isso... Ao chegar no centro de Madri, tratei de localizar meu hostel e andar até a hora do check-in, isso era questão de três horas. Fui no KFC pela primeira vez na vida, li um capítulo do 1984 e subi uma rua que me parecia interessante, havia uma feira ali. A rua inteira era de livrarias de rua, livros usados, achei incrível. Subi aquilo lentamente, não tinha pressa nenhuma.
Lembrei que momentos antes eu estava no aeroporto, caminhando até a estação do Metrô quando recebi uma mensagem da Nikki. 'Aproveita a viagem!', disse ela, e eu respondi quase que obrigatoriamente 'Já estou aproveitando!', mas na verdade ficava pensando, inseguro, se iria mesmo curtir bem a viagem sozinho. Pensava nela, o que ela andava fazendo, pensei em mandar mensagem, mas na verdade eu precisava 'estar aproveitando' a minha viagem, né... Era esse pensamento que ia e voltava na minha cabeça quase sempre. Acho que tô gostando dela de verdade. Que bosta. No final da rua dos livros usados havia um portão para um parque. Era o Parque de El Retiro e eu nem sabia.
Não consegui me animar muito pra fazer planos pra Madri, e mal olhava o mapa. Na verdade eu não tinha ideia do que estava fazendo ali. A bad tava batendo fudida. Andava devagar, pensando um monte e querendo estar com a Nikki. Pode ser paixão boba ou algo repentino, mas é a minha verdade nesse exato momento, só quero que ela esteja bem, e não vejo a hora de sair com ela de novo. De repente, entrei numa trilha de areia por impulso e por ela fui caminhando bem lentamente. Quando senti que era a hora, me sentei num banco de praça. Um velho bigodudo me perguntou 'você vai dormir aí?', eu disse que não, daí começamos a conversar. Eu só queria sentar pra escrever, merda.
O velho falou de um milhão de coisas, era maçante, mas conseguia falar espanhol com ele. Me contou a história de Madri, lugares pra visitar, as antigas capitais da Espanha, regiões como Andaluzia, Catalunya e tal, cidades que eu DEVERIA dar uma passadinha, o velho era simplesmente apaixonado por seu país. Deveras, né. Foi um papo ok, descontraiu e fez o relógio andar, daí ele começou a agarrar minha coxa enquanto falava. 'Coisa de espanhol', pensava. Até aí ok, mas quanto mais ele conversava, mais se empolgava e agarrava minha coxa e chegava perto do meu saco. Protegi meus bagos, claro, né. Uma hora o negócio foi demais pra mim e eu consegui encerrar o papo. Ficamos uns dez minutos dizendo tchau e nos abraçando, mas quando esse velho soltava o abraço, descia a mão pelos meus quadris até minha bunda. Isso rolou umas cinco vezes. O cara me chamou pra almoçar com ele. O velho não parecia gay, mas essas parada de ficar pegando em coxa e bunda é meio esquisito, sou machão mesmo ok... Ele foi embora, eu escrevi algumas coisas e segui meu rumo ao hostel.
Logo ao entrar, o hostel me pareceu super descolado. Gostei de cara. No meu quarto haviam três gurias, Sarah, Heather e Sam. Todas elas bem gente boa. Conversamos bastante. Sarah me atraiu, australiana e tal, Sam também era de lá, e cara, a mina tem um livro publicado e tá escrevendo o segundo! A pobre da Heather caiu de cara na noite anterior e quebrou o dente, a mina tava em apuros. Depois que adicionei a Sam, me ocorreu que ela é mais rica, vai e volta da Australia e vive viajando, quando a Sarah me disse que os tickets são absurdamente caros. Ela existe em um mundo diferente do meu. Depois de um tempo eu fiquei só outra vez, e isso foi ruim. O celular tá descarregando e a bateria não carrega direito, logo quase ninguém me mandava mensagem, e eu queria estar com a Nikki. Sim, eu fico muito bobo quando gosto de alguém. Me veio a cabeça que ficar sozinho não era a melhor coisa a se fazer. Não ainda.
'Quer vir comigo comprar comida?', me convidou Sarah. Ela tinha um sorriso lindo, rosto bronzeado e sardento, isso é sexy pra mim. Compramos comida e ficamos conversando no lounge do hostel. Ela tinha 32 anos. Eu tenho 22 até onde sei. Pode esquecer, André. Daí enquanto falávamos havia uma outra australiana que ouviu a conversa, e logo estávamos conversando em grupo, éramos uns cinco. Juntou-se uma mina que parecia indiana e um brother da Nova Zelândia. Eles falavam bem empolgados sobre a Espanha, cada cidade que eles visitaram, logo me veio a cabeça duas coisas: 1) Esse país deve ser muuuuuuito daora mesmo, preciso pesquisar; 2) É cara, esse é um grupo que eu não pertenço, talvez não ainda. Viajar por viajar, por ver lugares bonitos ainda não é minha parada. Digo, decidi escrever sobre meus dias aqui, compartilhar a experiência pessoal da jornada ao invés de apenas postar fotos de lugares lindos e comentar 'LINDO LUGAR!'. Voltei pro quarto e fui dar um cochilo.
Levantei de novo, tristonho, tomei banho e decidi sair por aí, me arriscar (menos, né), andando sem ter ideia da direção. No final encontrei a Plaza Mayor, é um lugar ok, mas no final eu avistei um Carrefour. Quanto tempo, Carrefour!
Ali os preços eram muito menores que os de Dublin. A qualidade também era diferente. As coisas pareciam mal organizadas na prateleira, daí me veio a cabeça que os espanhóis são bem diferentes, o inglês é tão não-me-toque que isso me irrita às vezes. Gostei disso. Uma latinha de cerveja pode custar até 0,30 centavos. Comprei os ingredientes pro meu misto quente de praxe. Voltei pro hostel e preparei minha comida.
Ficamos conversando até agora, meia noite e meia, sobre cidades e culturas e etc desse tipo. Havia um irlandês no meio, e na verdade EU tinha mais sotaque irlandês do que ele mesmo. Isso me deixa com vergonha um pouco, é como se eu tivesse tentando imitar os caras, sei lá... Mas ok, o cara também é apaixonado pela Espanha e vive aqui há três anos e meio. Nem sonha em voltar pra Dublin. Esse país deve ser mesmo daora viu, principalmente Granada. Todo mundo fala em Granada, meu! Nessa conversinha besta o meu mundinho abriu um pouco.
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Ando preso em coisas que eu mesmo construí -- O que você vai fazer?, é uma coisa delas. A maioria das pessoas que conheci hoje não faz ideia do que tá fazendo da vida, e mal pareciam se preocupar. Deixam a vida correr como na mais linda imaginação. Preciso pegar mais leve comigo mesmo, se as coisas derem errado, a vida vai me dar outra chance pra outra coisa. Só pegar mais leve comigo mesmo. Mas eu gostei da Nikki mesmo.
E olha que esse foi o texto de um dia que quase não aconteceu nada!
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