Sucesso para quem?

Nascido no começo dos anos 90 eu sou da geração Y, faço parte dos millenials que nasceram na época dos videogames e cresceram junto com a internet. Para os jovens brasileiros hoje em dia sobreviver nesse mundo sem pelo menos uma rede social é um desafio e tanto. Fomos moldados pelos formatos diferentes de cada uma delas e como sobreviventes que somos, nos adaptamos sempre que um orkut é trocado por um facebook, ou um facebook é trocado por um insta. Porém o que mais tem me intrigado ultimamente é justamente a pergunta que o fazem na Bio de sua página. Quem é você?
Se algumas vezes você se vê nesse drama, vamos brindar, pois tamo junto nessa.
Diante de um mundo de tantas pessoas felizes, bem sucedidas e exemplares ~ ainda que superficialmente ~ frequentemente vejo amigos toparem-se com aquela dúvida existencial de saber quem são e a que vieram nesse mundo. O desespero de quem não consegue se definir com precisão é grande, afinal vivemos numa época onde temos quase que a obrigação de sermos bem sucedidos. Não que há algo de errado em ser mediano, mas a grande hiperconectividade acaba por gerar uma hipercompetitividade. Raramente alguém quer ser o secretário do advogado, ou um médico residente no interior. Talvez esse sejam os meios, mas na maioria dos fins as pessoas querem ser os advogados, ou os médicos herois, com página bombando na rede social.
O incômodo de Sócrates o tornou um grande chato na Grécia Antiga, passando a incomodar os atenienses com a dúvida existencial da qual todos tentavam desviar. “Conhece-te a ti mesmo”, dizia. Simples e sintético, ele se adaptaria perfeitamente na era das redes sociais. O que as pessoas fugiam era justamente dessa pergunta um tanto tinhosa: Quem é você? O grande problema é que com o excesso de informações e de possibilidades de caminhos diferentes a seguir, frequentemente nos encontramos presos na linha de partida, ou algumas vezes, ilusoriamente presos em escolhas que já fizemos e a qual julgamos ‘não ter mais retorno’. Lembrei de uma história.
Conheci um amigo que se queixava da vida, e como de praxe tentou aliviar a carga de seu sofrimento reclamando até que uma alma caridosa realmente ouça ~ o que hoje em dia é uma grande raridade ~ e comece a talvez se queixar de sua vida também. Era o filho de um empresário, que cursou direito por causa do pai, trabalhou na empresa dele e como não se encaixou ali, saiu da empresa e atualmente trabalhava no setor de finanças da prefeitura. Mas ao mesmo tempo em que reclamava da vida, conseguia falar brilhantemente sobre empreendedorismo e finanças, onde o mundo do dinheiro e dos sonhos parecem uma grande escapatória à realidade existencial.
Às vezes penso que somos jovens Sidarta Gautamas, preso em nossos palácios evitando conhecer a origem do sofrimento não da vida dos outros, mas sim do nosso próprio sofrimento. Evitamos tanto o desconhecido que nos tornamos uma pilha de ansiedade e por vezes depressão, por não termos nos encontrado na vida. E tentamos encontrar a solução para os problemas sociais da África, sem conseguirmos ao menos tentar ajudar a resolver as diferenças entre nossos familiares próximos. Aonde quero chegar com isso? Que pensar pequeno hoje em dia às vezes pode valer mais do que pensar grande. Não digo que todos nós devemos nos lançar a esse mundo loucamente e tentar nos descobrir através de experiências previamente sugeridas, e sim que devemos ao menos procurar os nossos porquês de vivermos, como diria Simon Sinek (recomendo).
O amigo se queixava da vida, que seu trabalho era monótono, que só mexia com papeis e números, e gente reclamando. Foi quando ele me disse que era responsável pela tributação aos empresários pela Prefeitura. Que trabalho importante, puta que pariu! Realmente eu não aspiro trabalhar num posto como esse e estufar o peito pra dizer que é o que faço da vida, até porque eu acho que descobri o que sou, e isso inclui o tipo de profissão que eu não teria. Mas ainda assim acho um trabalho importantíssimo, e falei pra ele. Porém seu problema foi justamente em tentar encontrar-se como pessoa. E para entrar nesse território de descobertas, é preciso lançar-se em territórios desconhecidos, enfrentar sua escuridão pessoal.
Nessa jornada que frequentemente fazemos, de autoanálises, de capacitações e desenvolvimento de aptidões, nos vemos como seres geniais quando queremos ser honestos consigo próprios. E o grande problema dessa geração é que somos realmente uma geração de pessoas geniais, com pelo menos duas ou três grandes possibilidades de caminhos bem sucedidos a seguir. Porém a dúvida que coloco no ar é sucesso para quem? O sucesso pode ser para você, para a sociedade, para seus familiares, ou para alguma outra pessoa. Nesse instante quem faz o sucesso e o entrega a alguém é você mesmo.
Tenha um ótimo dia e obrigado pela leitura.
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